A gravidez é um período repleto de descobertas — e dúvidas. Nessa fase, o corpo da mulher passa por diversas mudanças, e a pele não fica de fora desse processo. Com o crescimento da barriga e alterações hormonais, é comum surgirem questões como ressecamento, coceira, manchas e até mesmo estrias.
Nessas horas, um bom hidratante pode ser um aliado indispensável, mas a escolha deve ser feita com cuidado. Afinal, qual fórmula é segura para mães e bebês? Existe algum ativo a evitar?
A dermatologista Thais Barros, que atende exclusivamente gestantes, lactantes e mulheres que estão tentando engravidar, explica que embora a barreira placentária forneça alguma proteção ao feto, ela não é totalmente impermeável. “Certas moléculas podem cruzar essa barreira, destacando a necessidade de tomar cuidados ao escpolher produtos para a pele nessa fase”, explica.
Para trazer respostas aos principais questionamentos sobre o assunto, o Estadão Recomenda conversou com Thais e mais dois dermatologistas, que contaram como escolher bons hidratantes e ainda indicaram opções seguras para as gestantes.
Ouvimos também a especialista em tratamentos para a pele na gravidez Ana Carulina Moreno, e Gilvan Alves, mestre em dermatologia pela Universidade de Londres e coautor do livro “Dermatologia e Gravidez”. Confira a seguir um guia sobre o assunto, incluindo uma lista completa com ingredientes proibidos.
O que não pode ter no creme de gestante?
De modo geral, as gestantes precisam evitar cremes hidratantes contendo ureia, parabenos, triclosan, ftalatos, silicones, óleo mineral, essências artificiais e retinóides.
“Todos esses ingredientes são contra indicados para uso tópico por sua alta capacidade de absorção sistêmica e efeitos deletérios aos desenvolvimento do bebê”, explica Thais.
“Tem alguns hidratantes corporais rejuvenescedores no mercado que têm retinol, que têm clareadores como hidroquinona, que devem ser evitados nessa fase para que não haja risco para o feto”, destaca Ana Carulina.
Aqui está a lista completa de ativos que, segundo as especialistas, devem ser evitados de acordo com a literatura médica mais atual:
- Beta hidroxiácidos (especialmente o ácido salicílico);
- Retinóides: ácido retinóico, palmitato de retinol, retinaldeído, adapaleno, tretinoína e isotretinoína;
- Formaldeído: formol, formaldeído, quaternium-15, dimetil-dimetil (DMDM), hidantoína, imidazolidinilureia, diazolidinilureia, hidroximetilglicinato de sódio e 2- bromo-2-nitropropano-1,3-diol (bromopol);
- Ureia em concentrações tópicas acima de 3%;
- Hidroquinona: hidrochinona e quinol / 1-4 dihidroxibenzeno / 1-4 hidroxibenzeno;
- Parabenos: propil, butil, isopropil, isobutil e metilparabenos;
- Chumbo;
- Amônia;
- Triclosan ;
- Ftalatos;
- Óleo mineral ou parafina;
- Silicones;
- Essências artificiais.
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Hidratantes recomendados 100% liberados
A dermatologista especializada em gestantes Thais Barros explica que a maior parte da água ingerida pelas mulheres vai para o bebê primeiro. “Isso faz com que a pele fique seca e um pouco mais desidratada do que o normal”, diz. Por isso, a especialista reforça que um bom hidratante “pode atingir as camadas mais profundas da pele, conseguindo uma hidratação profunda”.
Ela recomenda que sejam priorizadas fórmulas com ingredientes super hidratantes — como ácido hialurônico, niacinamida, esqualano vegetal, D-pantenol, óleos e manteigas vegetais —, pois ajudam a manter a hidratação ao longo do dia.
Seguindo essas orientações, o Estadão Recomenda foi em busca de hidratantes seguros e 100% liberados para gestantes, seguindo as orientações dos dermatologistas. Veja uma seleção de quatro produtos, corporais e faciais, que estão completamente livres dos ativos mais problemáticos.
Hidratantes liberados, mas com ressalvas
A maioria dos hidratantes disponibilizados no mercado, mesmo quando voltados às gestantes, acabam tendo óleo mineral ou silicone na fórmula.
Sobre isso, Thais conta que o principal motivo pelo qual deve-se evitar produtos com silicone é que podem causar reação alérgica frequente na pele mais sensível da gestante.
“Além de ser um ingrediente sintético altamente oclusivo, ele prejudica a absorção dos demais ativos aplicados na skincare, assim como piora lesões de acne ao obstruir os poros e propiciar piora das espinhas e cravos”, explica.
Já os derivados de petróleo — como óleo mineral, petrolato, parafina — podem ser contaminados com suspeitos carcinógenos se não forem refinados adequadamente.
“Sempre oriento as minhas pacientes a evitar produtos com petrolato, a menos que indique claramente que o petrolato é totalmente refinado como petrolato branco”, detalha.
A seguir confira cinco hidratantes voltados às gestantes que contêm um ou mais desses ativos na fórmula. Antes de usá-los, consulte um médico para determinar se eles estão liberados.
Porque a ureia faz mal para a gestante?
Afinal, por que grávidas não podem usar creme com ureia? Thais explica que, em relação à ureia, existe a restrição de uso tópico durante a gestação. “Segundo a Anvisa, todas as vezes que um produto tiver na sua composição ureia em concentração acima que 3%, ele deve conter no rótulo o alerta de não utilização durante a gravidez”, reforça.
Porém, a especialista explica que nem todos os cosméticos informam a concentração dos seus ativos e, por segurança, a literatura científica não indica o uso de produtos com ureia.
“A ureia pode atravessar a barreira placentária e existem alguns estudos relacionando esse ativo à má formação fetal. Além disso, mostram que a ureia aumenta a permeabilidade da pele, facilitando a absorção de substâncias possivelmente tóxicas”, destaca.
Usar cremes com ou sem cheiro?
O mestre em dermatologia Gilvan reforça que a questão de odor para a gestante é importante porque a gravidez aguça muito o olfato. “Todas as fêmeas quando engravidam — seja uma mulher, uma onça ou uma girafa — a tendência da natureza é aguçar o olfato dela. É questão de sobrevivência da espécie”, explica.
Contudo, o olfato aguçado pode trazer incômodos e, por isso, ele aconselha “escolher um hidratante que você goste do cheiro ou que não tenha cheiro, para não ter desconforto”.
Ana Carulina concorda e explica que durante a gestação a pele fica sensível — e a gestante também — por conta do aumento do volume sanguíneo. “Algumas gestantes podem ficar mais nauseadas com alguns odores, então evitar hidratantes com muito cheiro nessa fase é importante”, acrescenta.
Já Thais defende que é importante que o creme hidratante corporal seja um produto sem essências artificiais ou perfume na fórmula. “O perfume é um exemplo típico de um grupo de cosméticos que, muitas vezes, são feitos de diferentes produtos químicos nocivos, como parabenos, derivados de benzeno, aldeídos”, lista.
A especialista conta que, mesmo sendo usado por um curto período, quantidades muito pequenas de perfume ainda podem causar irritação e vermelhidão na pele exposta.
Quais áreas do corpo priorizar na hidratação?
Durante a gravidez, o corpo passa por mudanças e muitas regiões aumentam de tamanho. “Áreas do corpo com maior distensão, como os seios, abdômen, quadril, glúteos e coxas são as que devem receber uma hidratação ainda mais intensa durante a gestação”, explica Thais. Segundo a especialista, isso pode melhorar a qualidade da pele e ainda prevenir as lesões e estrias.
Ana Carulina acrescenta que, mesmo não havendo 100% de certeza de que as estrias serão evitadas, é importante fortalecer a pele durante a gestação com hidratação extra. “A gestante deve tratar a pele todo dia após o banho, que é a melhor hora da hidratação, com a pele ainda úmida”, recomenda.
“A pele hidratada é o que melhora a elasticidade, então primeiro é importante tomar bastante líquido porque a melhor hidratação que tem é via oral, com água”, explica Gilvan.
O especialista ainda chama atenção para o uso excessivo do sabonete: “muito sabonete retira a hidratação natural da pele. Então, talvez um banho por dia, um banho mais rápido, com água mais fria seja suficiente”, destaca.
Confira outras dicas dos dermatologistas:
- hidratar o rosto, ao redor dos olhos e bochechas, ao menos 2x ao dia;
- massagear as áreas mais afetadas (barriga, seios, quadril e glúteos) para ativar a circulação sanguínea e aumentar a elasticidade da pele;
- passar creme na barriga várias vezes ao dia;
- priorizar cremes ou manteigas hidratantes ao invés de géis, pois são mais concentrados e hidratam mais profundamente.
Dicas para hidratar a pele na gravidez
Para evitar a pele seca durante a gestação, o importante é encontrar um equilíbrio e não depender apenas do hidratante. Por isso, a especialista Thais Barros dá as seguintes dicas:
- beba água antes de sentir sede (se sentir sede, já está desidratada);
- coma alimentos ricos em água, como frutas e vegetais;
- hidrate sua pele com cosméticos com propriedades hidratantes e propriedades nutritivas;
- proteja sua pele de agressões externas, como sol, vento, frio;
- vista-se com materiais mais macios, como linho, algodão ou bambu, para limitar o atrito.
A especialista destaca que, “combinadas, todas essas dicas podem ajudar a manter uma pele bonita durante a gestação e a superar irritações, coceiras, vermelhidão, descamação e estrias”.
Hidratação ou nutrição?
Apesar de se falar em hidratação da pele durante a gravidez, Thais destaca que é importante reconhecer a real necessidade da pele para identificar se é preciso hidratar ou também nutrir.
Segundo a especialista, a pele desidratada é uma pele sem água, que pode ter áreas de ressecamento, linhas finas, irritação, coceira, ficar opaca e desconfortável.
“Quando a pele não tem água, ela deve ser hidratada com ingredientes ativos hidratantes. Por exemplo, ingredientes ativos como água, glicerina vegetal, D-pantenol, esqualano vegetal, ácido hialurônico ou aloe vera”.
Já uma pele sem nutrição é pele sem gordura. “Ela é sensível, irritada e áspera ao toque. Geralmente fica fina e pode até descamar. Trata-se de uma barreira cutânea fragilizada e devemos, portanto, fornecer nutrição com ingredientes ativos nutritivos, como manteigas vegetais (cacau, cupuaçu) e óleos vegetais (jojoba, castanha do Pará, maracujá, abacate)”, finaliza.
Fonte: estadao
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